Diferente dos livros anteriores, Barros admite que este romance tem um enredo mais denso, menos agradável ao leitor que busca apenas o entretenimento na experiência da leitura. Nas palavras do autor, não se trata de um livro “difícil de ler”, mas de uma narrativa que provoca inquietações e, é bom que se diga, reflexões meio amargas.
“É a visão de um homem que vê o mundo à sua volta se esboroar aos poucos, ao se deparar em sua repartição com um suposto esquema de corrupção”, adianta Barros. “O personagem se sente impotente diante dos fatos e descrente com o rumo dos acontecimentos. Paralelo a esse processo, ele vê seu casamento ruir e sua vida ir perdendo o sentido”.
O autor também se orgulha de ter se empenhado e não medido esforços para lapidar o livro ao longo dos quarenta e oito meses que abrangeram sua gênese e produção. “Não me poupei. Busquei cortar cada excesso, cada gordura, cada desejo de panfletar, evitando assim deixar o autor transparecer mais do que os personagens”, conclui.
Referências:
Na orelha do livro, a autora Cristiane Krumeauer destaca: “Quem conhece a ficção policial de Daniel Barros, sabe que ele tem tanta fluidez no discurso que acaba indo além das investigações do crime. A descrição detalhada da cena inclui desde o toque na textura lisa da parede à cortina que balança com suavidade ao vento, ou até o palpitar aflito do coração da personagem, prestes a ser flagrada. O romance, dividido em partes, não é linear, o que deixa a leitura mais instigante. O leitor vê, com olhos curiosos e atentos, que essas partes se complementam, oferecendo respostas às lacunas propositalmente jogadas ao ar. Integridade e corrupção; ficção e realidade, dualidades que fazem parte do nosso dia-a-dia e que estão presentes neste estupendo romance. Uma realidade nem sempre sedutora, mas que prende o leitor do começo ao fim, retratada com maestria”.
Amanda Pessoa é outra autora que evidencia as qualidades deste romance. No texto de quarta capa, ela diz: “Em Canto Escuro, a história de Paulo Henrique é contada de maneira tão pungente, que a identificação do leitor com ele é inevitável, para o bem e para o mal. Suas falhas, suas vontades, seus desejos, são todos retratados de forma exageradamente humana e o leitor se sente convidado para acompanhar todas as situações pelas quais ele passa, ainda que não aprove os meios que ele usa para alcançar alguns fins. O enredo de Canto Escuro é construído de forma a impactar quem lê, algo que acontece com maestria - a vontade de ser mais específica é grande, mas seria um pecado tirar de você, colega leitor, a chance de descobrir facetas humanas presentes na nesta obra e que são vistas em tantas pessoas, mas na maioria das vezes negadas”.
Segue abaixo um trecho do romance:
– Boa noite, doutor Paulo Henrique. Vai fazer serão?
– Pois é, ia levar trabalho para casa, mas resolvi terminar aqui mesmo. [...] Eu te aviso quando estiver de saída.
– Não precisa. Daqui vejo a luz da sua sala. Quando o senhor apagar, saberei que tá saindo. Bom trabalho, senhor.
E dessa forma o vigilante acabou alertando Paulo Henrique, que não se lembraria de acender a luz de seu escritório antes de ir para a sala da diretora. Correu para sua sala, acendeu a luz e demonstrando normalidade apareceu na janela, de onde pôde ver e acenar para o vigilante lá embaixo. Mais rápido ainda chegou à direção, por hábito, quase acendeu a luz, mas se conteve. Por sorte, Miriam era uma secretária atenciosa e havia fechado as cortinas do escritório, o que facilitaria o uso da lanterna sem despertar suspeita com os clarões. Abriu a bolsa com os apetrechos e começou a montar o equipamento. Suas mãos suavam e de imediato se arrependeu de não ter tomado uns tragos antes para se acalmar. [....] Ainda tomou cuidado para que o facho da lanterna não fosse em direção às janelas. Não podia demorar muito, pois o vigilante poderia mudar de ideia e resolver realizar a ronda com ele ainda no prédio. Terminado o trabalho, verificou se tudo estava em ordem. Trancou o escritório e desceu para apagar a luz da sua sala. Já no elevador lembrou: “Puta-merda! Esqueci a pasta!”. Imediatamente começou a apertar os botões do elevador para ele parar em algum andar antes do térreo. Finalmente, parou; ele saltou e correu pelas escadas. No andar térreo, o vigilante, ao ver que o elevador descia, dirigiu-se para a porta para recepcionar Paulo Henrique. Para a sua surpresa, o elevador estava vazio.
Sobre o autor:
Daniel Barros nasceu a 4 de outubro de 1968, na cidade de Maceió, estado de Alagoas, filho de um oficial da Polícia Militar de Alagoas, Ivan Marinho de Barros, e da professora Maria Tereza Costa de Barros. É engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Alagoas (1992). Em Brasília, onde reside desde 1998, pós-graduou-se em Segurança Pública, área em que atua profissionalmente há vários anos.
Foi colaborador, como fotógrafo, de O jornal e Gazeta de Alagoas.
É autor dos romances O sorriso da cachorra (2011) e Mar de pedra (2015), ambos pela editora Thesaurus. Participou das coletâneas Contos Eróticos, Enquanto a noite durar (contos sobrenaturais) e Os bastidores do crime (contos policiais, livro do qual foi organizador). Integra as antologias poéticas Sombras & desejos, Toda forma de amor e Confissões.
É membro do sindicato dos escritores DF.
O lançamento da obra será no próximo dia 14 de maio, às 19h, no restaurante Fausto & Manoel, em Brasília/DF. Para comprar o livro, é só acessar a loja virtual da Editora Penalux.
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